30 de novembro de 2011

papeis brancos

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Vestido de preto. Dentro de uma jaula. Grades de nostalgias. Saudade de um passado que não foi vivido. Lá estava ele, preso na sua relutância de aceitar que tudo muda, que tudo ocorre, que o mundo se cria. Uma folha de papel branca jamais substituiria uma folha de papel amarelado, rasgado, arruinado. Ele virava de costas com seus dedos trêmulos a amassar o papel estragado. Ele ria e sentia pena daquelas tantas pessoas que saiam pela rua com seu papel branco. Como são imprestáveis, não sabiam eles que só o papel manchado e mofado é que presta? SÓ O QUE É VELHO SERVE. Algumas coisas são novas, mas parecem velhas. Elas também servem. Seu sorriso podre com dentes tortos rugia. Ele queria ser o melhor, e se os melhores usavam papeis amarelos, ele deveria usar também. O papel branco era pobre. 
Ele sentou na cadeira com almofadas, relaxou. Mas logo percebeu que estava feliz com algo tão fútil como uma cadeira de almofadas, ela nem sequer gemia enquanto ele balançava. Ele queria a outra. A velha. A dura. A que gemia. A cadeira com almofadas também era pobre.
Como ele podia ser tão infeliz? Por que ele foi nascer numa época tão ruim. Ele se sentia preso num tempo que não era dele. As músicas eram tão ruins. Essas bandas que não dizem nada em suas letras. Como queria ter vivido na época dos Mamonas. Oh céus! Como ele invejava seus pais, eles sim eram felizes no tempo deles. Não compensa viver nessa época de agora. Sentia inveja do pai que pintou a cara e saiu na rua protestando pelo que ele acreditava, independente do que achariam... Ele ligou a tevê. Mais uma reportagem sobre a Usp: "Cambada de maconheiros! Saem na rua pra fazer baderna. Um monte de sem o que fazer. Quem eles pensam que são pra protestarem pelo que acreditam?"
Ele desligou a tevê. Apoiou o queixo na janela e uma lágrima escorreu sua face. Via aquelas pessoas saindo com suas folhas brancas. Elas eram tão pobres.
Enquanto ele chorava, admirando aqueles dias honrosos do passado, sua vida passava... Não importava, aquele presente era uma porcaria mesmo. Ele sonhava com o dia em que todos abandonariam seus papeis brancos, e passariam a espirrar com papéis mofados.

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