10 de maio de 2012

Gênesis de uma arte

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"E a terra era sem forma e vazia; 
e havia trevas sobre a face do abismo; 
e o Espírito de Deus se movia 
sobre a face das águas." 
Gênesis 1:2

E Deus disse:
 - Que exista um rito, que entre todos, seja o mais belo. Que esse rito seja feito para alimentar a existência da vida e que sem ele tudo se desfaça. Confio a esse rito toda a sublimidade da humanidade. E que ele seja feito à imagem e semelhança da excelência dos arcanjos. Que cada rito seja único, e nunca se repita.  Que todo o lugar em que esse rito acontecer seja único e jamais volte a ser o que era antes. Que seu piso seja sagrado e tenha vida.Que sua fronte seja coberta pelo Santo Sudário e que quando ele se abra, o mundo se reverencie à grandeza dessa arte. Que essa arte misture todas as outras e se eleve. Eis que crio também, uma outra forma de homem e que seja este, o único ser capaz de realizar esse rito. O único ser capaz de pisar descalço sobre o madeiro vivo e se comunicar com o universo. Que seja um homem capaz de trocar de alma. Que esse homem, sempre que puser uma máscara, morra, mas os vermes estão proibidos de comer desta carne. Apenas os homens podem. E após esse sacrifício antropófago, aquela carniça dará vida a outro alguém. Um mesmo corpo, com uma alma diferente. Uma vida diferente. Dores diferentes. Fomes diferentes. E quando o corpo não lhe for mais de absoluta necessidade, essa nova alma deve fugir e o homem da raça diferente ressuscitará sem completar os três dias. Encontrará seu corpo suado, seu coração acelerado e se curvará diante daqueles que, de pé, chocam suas mãos, uma contra a outra, enquanto secam os olhos encharcados de lágrimas. Confio a essa raça, a responsabilidade de ser o coração dos homens.

E o teatro passou a existir. Houve uma tarde e uma manhã, foi o oitavo dia.

7 de maio de 2012

Foi assim que morreu Romeu


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Podiam procurar nas camas desarrumadas. Podiam procurar nos parques e restaurantes que eles frequentavam. Podiam procurar no país, ou até mesmo no planeta. Jamais os encontrariam. Naquela noite, eles fugiram pra um outro planeta. Era um planeta diferente desses que lemos em livros de astronomia. Ninguém sabia que ele existia, apenas os dois. De fato não tiveram muito tempo, as malas foram feitas às pressas. Nem o oráculo do mais profundo atlântico saberia dessa fuga. No esconderijo, não precisavam de muita coisa, apenas lençóis brancos e suados, alguns livros, e xícaras para o café. Não existia ar nesse lugar. Aqueles dois amantes respiravam o seu amor. Aquele amor os mantinham vivos. 
Naquele planeta, eles decidiam tudo, viviam sem julgamentos, reprovações e a maior distância que existia entre eles era a distância de um olhar. Suas almas se conectavam. Um só eremita de dois corpos naquela vastidão de terra inabitada e inacabada pela criação de Deus. Suas bocas eram íntimas. Seus pupilas eram irmãs. Suas respirações rimavam. Eles se comunicavam por batimentos cardíacos. Naquele planeta, aqueles dois eram a forma mais bela e divina do amor. 
Aqueles dois amantes respiravam o seu amor. Mas um dia, nasceu o medo.
O medo matou o amor.
Suas gargantas secaram. Suas narinas se fecharam e Romeu deitou sobre o corpo gélido e frágil de quem mais amou. Suas mão se trançaram.  E enquanto o amor os fez viver, a sua falta os entregou aos vermes.