19 de abril de 2011

Suspeite

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Ele não gosta de futebol? SUSPEITE
Ele sabe todos os capítulos da novela? SUSPEITE
Ele cumprimenta os amigos com beijo? SUSPEITE
Ele vive dizendo que ama os amigos homens? SUSPEITE
Ele diz que mulheres devem ter direitos? SUSPEITE
Ele curte moda? SUSPEITE
Ele prefere ver ballet ao invés de formula 1? SUSPEITE
Ele curte teatro? SUSPEITE
Ele usa rosa? SUSPEITE
Ele passa cremes? SUSPEITE
Ele não perde um episódio de Glee? SUSPEITE
Ele tem cabelos longos e cuida deles? SUSPEITE
Ele não acha nojento dois homens se beijando? SUSPEITE
Ele ouve Madonna, Lady Gaga e afins? SUSPEITE
Ele não entende nada de carros? SUSPEITE
Ele conversa muito com garotos no msn? SUSPEITE
Ele dança? SUSPEITE
Ele tem mais amigas do que amigos? SUSPEITE
Ele condena a homofobia? SUSPEITE
Ele tem amigos gays e anda com eles? SUSPEITE mais ainda
Ele defende os direitos gays? SUSPEITE SUSPEITE e SUSPEITE

Suspeite que ele é um homem sem preconceitos, bem seguro de sua heterossexualidade e inteligente o suficiente para entender que a única coisa que te faz realmente gay é o fato de gostar de homens.

7 de abril de 2011

Ele ouvia "Todo amor que houver nessa vida"

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Os fones de ouvido estavam levemente frouxos em suas orelhas. Mais o da direita. Ele ouvia aqueles agudos do Cazuza que tanto gostava. Aquele dia estava levemente frio, não o bastante para que ele pudesse usar seu cachecol xadrez, mas não era possível sair sem ao menos uma blusa. Ele vestia aquele pullover que tinha ganhado de aniversário. Naquele aniversário que ele bebera até não aguentar mais, num bar estranho, com pessoas meia-boca. Aquele pullover verde com uma pequena mancha na manga.
Quando ele entrou no vagão, trazia em sua mão um livro amarelado sobre algumas teorias ridículas que não lhe agradavam muito. Tentou ler uma ou duas páginas, mas preferiu deixar Cazuza dar seu show em seus ouvidos.
Alguns olhares voltaram para ele. Sempre acontecia isso. Ele não se vestia igual, não pensava igual, não agia igual, isso era espantoso para aqueles outros rostos curiosos que se dirigiam contra ele.
O óculos estava embaçado. Não interessava. O que realmente importava é quando aquela maldita estação chegaria, e ele poderia sair daquele lugar e parar de ouvir a velha que contava sobre seu dia para a amiga, ou aqueles dois homens que discutiam qual era a melhor operadora de celular, ou ainda parar de ficar olhando para aquele maldito ladrãozinho filho da puta que com certeza estava pensando na melhor forma de assaltá-lo.
O metrô parou naquela estação do bairro chique. Ao menos o ladrão poderia desviar a atenção e procurar outra vítima, que não fosse ele, um simples estudante que não tinha dinheiro para porra nenhuma.
O barulho aumentava, o que obrigava o pobre rapaz, subir o volume da música que ouvia. Próxima estação. Mais uma velha. Dessa vez nem a garota de cabelo mal tingido, nem o moleque de óculos de sol (sim, óculos de sol, mesmo naquele dia nublado) levantaram do banco preferencial.
Ele ofereceu o lugar para a idosa. Ela o olhou com um olhar estranho como que se quisesse perguntar "que droga de roupa é essa que ele ta vestindo?". Velha maldita, nem se ofereceu para carregar a mochila dele.
"Ao desembarcar cuidado com o vão entre o trem e a plataforma." Como se alguém ouvisse... Saíam todos como animais do vagão. Finalmente tinha chegado a estação dele, não foi difícil chegar à porta. A estação se aproximava e ele estava inquieto, quando finalmente parou, a porta travou e não abriu.
Ele não se surpreendeu, a indiferença falava mais alto sempre. Através daquele vidro meio arranhado da porta, ele a viu. Ela duelava com o vento para arrumar um cachecol amarelo que trazia no pescoço. Sua pele estava esbranquiçada pelo frio, o nariz era vermelho. Quando seus olhares se encontraram não se soltaram mais, a franja que lhe cobria a testa balançava ao sabor do vento. A música chegou ao refrão. A respiração dele se ofegou. Aqueles instantes eram eternos, aquela menina era frágil, era como se o vento quisesse a devorar. As roupas dela eram tão estranhas como as dele. Por um instante era como se todos se vestissem estranhos e eles dois fossem os normais (talvez fosse isso mesmo que acontecesse). O Maquinista se desculpava pelos problemas técnicos enquanto ela deu seu primeiro sorrisinho, era uma mistura de timidez com uma malícia ingênua, ou talvez uma ingenuidade maliciosa, não sei. Ela não sabia. Ele não sabia. Ele retribuiu com um sorriso meio cafajeste. A porta se abriu. O frio tomou conta do vagão, realmente havia esfriado muito. Ele sentiu uma enorme vontade de beijar aqueles lábios trêmulos e ressecados. Talvez ela também quisesse mas todo o pudor os impediu. Enquanto ele descia e ela subia no vagão, suas mãos se tocaram. Ele sentiu um toque gelado. Único. Ele sentiu o coração dela, sua alma.
Ele esperou por alguns instantes na frente da porta. O vento soprou sobre o cachecol dela que voou pra fora do vagão. As portas se fecharam. O trem partiu. Ele ficou na estação, sozinho, apenas sentindo o cheiro da paixão num pequeno pedaço de lã amarela.

2 de abril de 2011

5

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Vamos viver, minha Lésbia, e amar,
E aos rumores dos velhos mais severos,
A todos, voz nem vez vamos dar. Sóis
Podem morrer ou renascer, mas nós
Quando breve morrer a nossa luz,
Perpétua noite dormiremos, só.
Dá mil beijos, depois outros cem, dá
Muitos mil, depois outros sem fim, dá
Mais mil ainda e enfim mais cem - então
Quando beijos beijarmos (aos milhares!)
Vamos perder a conta, confundir
P'ra que infeliz nenhum possa invejar,
Se de tantos beijos souber, tão longos beijos

(Catulo - Séc. I a.C.)