22 de maio de 2011

Entulhado de lágrimas contidas

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Mofando no canto de um quarto empoeirado, encontro-me. Um entulhado de lágrimas contidas. Essa maldita vontade de deixar transbordar todo medo, aflição e desespero que carrego dentro de mim, toda essa angústia que me sufoca, que me impede de ir para frente. Vejo correr por entre meus dedos, todos os meus sonhos. Tudo aquilo que sempre quis. Ah, como é difícil acreditar, ter fé de que tudo vai acabar bem, quando cada sopro diz o contrário. Sinto-me desgastado, podre, como uma velha portinhola que não fecha mais. A cada dia sou obrigado a devorar, como um cão faminto, cada pedaço da minha pele. Farto-me com o horrível sabor das minhas entranhas. Mortifico cada centímetro da minha carne, para poder manter-me de pé, com essa linda fase rosada de quem vive feliz. Ah, dói saber que isso não é nem o começo.
Ouvindo o barulho da chuva la fora do quarto, encontro-me. Um entulhado de lágrimas contidas. Vejo todas as minhas energias sendo gastas. Provo do maior medo que se poderia ter, provo do medo de ser obrigado a desistir dos meus sonhos, meus ideais. A cada segundo que passa, sinto-me mais afogado nessas lágrimas internas. Estou sufocando. Necessito que essas lágrimas saiam de dentro de mim, preciso voltar a ficar de pé, mas não consigo. Não Posso. Não posso me dar ao luxo de chorar. Sou um Menino grande, e menino grande não chora.
Sozinho no quarto escuro , encontro-me. Um entulhado de lágrimas contidas. Afogando-me. Ah, como eu queria saber chorar.

16 de maio de 2011

Enivrez-vous - Charles Baudelaire

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É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: “É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser”.

10 de maio de 2011

acostumei-me a não ser feliz

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Acostumei-me a não ser feliz, acostumei-me a aceitar ver outros sorrisos e não sorrir junto. Se alguém acena na rua, dou um passo para a direita, posso estar na frente de alguém. Não há nada a ser feito, nascido para a infelicidade, coleciono destroços de corações rotos. Se ela sorri, obviamente não é para mim. Acostumei-me a não ser feliz. Estou satisfeito com a situação, ou talvez, apenas conformado. E dentre as flores murchas e secas, surge o mais belo lírio. É estranho como aquela tão bela flor sorri em tantas outras flores mortas. Será que sou digno dela? Aposto que deve ser uma flor morta disfarçada, como são perversas as mentes das flores. Eu não devo me apegar, aposto que quando eu a cheirar tudo vai se desmanchar. Mas ela é tão linda. talvez valha a pena um ou dois dias de lágrimas por um ou dois minutos de amor. És tudo que sempre quis, tudo que sempre idealizei. Promete que és real, e que vais estar aqui quando eu acordar. Promete pra mim que me farás feliz, pois sabe, eu acostumei-me a não ser feliz.