12 de agosto de 2010

Hier encore, J'avais vingt ans...

Estou sozinho numa sala fechada, com paredes brancas e vejo minha vida escorrer entre meus dedos trêmulos. Minha juventude passa, e eu tenho medo de como será depois disso, ver meus projetos bem sucedidos, alguns sonhos frustados e sabendo que minha vez já passou. Confesso, tenho medo da velhice. Não quero um dia dizer que na minha época era diferente. Ser só mais um velho que já realizou tudo que tinha para se realizar, ou que pelo menos tenha tentado, esperando a morte chegar, afinal o mundo não precisa mais de mim.
Naquela sala branca, vazia, fria olho-me no espelho e vejo um velho com rugas, cabelos brancos, roupas leves, e olhos de quem já viu muitos amigos morrerem, que já derramou lágrimas por muitos amores, e que disperdiçou os anos pensando que eram dias. E eu não terei outra chance para fazer tudo de novo. Errar tudo o que eu deveria ter errado e tive medo. Sorrir de todos os momentos que eu chorei. E chorei muito. Querendo ultrapassar o tempo que corria mais depressa do que eu imaginava. Olhe pra mim, já não posso subir uma escada correndo, minhas costas doem, minha vida já passou, estou aqui esperando o dia em que tudo escurecerá e aquelas que não notaram meus choros contidos lavarão meu cadáver de lágrimas. Ontem chorei por aquele carrinho quebrado, hoje choro enquanto a cera quente arranca minha barba bruscamente e meus amores me confundem, tenho medo de amanhã estar chorando por ter visto minha vida passar enquanto não a aproveitei, e sozinho numa sala branca em frente a um espelho, esperar tudo acabar e eu ocupar o túmulo que me pertence.


Ontem então, Eu tinha vinte anos
Eu disperdiçava o tempo,
Acreditando que podia pará-lo
E para retê-lo, ou mesmo antecipá-lo
Eu não fiz outra coisa senão correr
E agora estou ofegante
(Charles Aznavour)

Um comentário:

  1. Definitivamente, não foi um bom momento pra EU ler este post...
    Mas o texto está ótimo, ótimas percepções, ótimo desenvolvimento...

    besous chéri
    Vah

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