11 de janeiro de 2015

Não chovia la fora


Eu quero arrancar minha cabeça. Quero ver meus olhos explodirem. Ver minha garganta tentando roubar o ar de onde não existe. Estraçalhar meu crânio e de dentro tirar o cérebro. Quero machucar meu cérebro. Quero esfaquear meu cérebro. Declaro meu cérebro culpado. Ele me faz mal. Meu cérebro é cruel. Não entendo o prazer mórbido que minha cabeça tem em repetir, em looping, lembranças que não quero ter. 

Estou sentado na ponta de uma mesa de jantar gigante coberta por um tecido vermelho-morto. Estou de smoking. Estou de vestido. Não estou vestido. Vejo minha mente caminhar em minha direção para me servir, em uma bandeja de prata, as imagens que não quero lembrar. Acorrentado a cadeira, sou obrigado a me servir de visões indigestas. Eu quero vomitar, eu quero arrancar minha boca e meu estômago para ser incapaz de comer. Sinto minha roupa molhada, ensopada, encharcada de água salgada. Chovia do lado de dentro. Me afoguei.

Um comentário: