2 de novembro de 2012

Da Sé à Barra Funda

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Antes de entrar no trem, ele havia colhido uma rosa. A maior de todas as rosas que ele já vira. No caminho até a estação ele comeu uma coxinha, mas não limpou a boca. Ele usou o guardanapo para enrolar a flor, para que nenhuma pétala caísse. Ao ver aquela multidão roçar-se entre si naquela estação lotada, ele colocou a rosa junto a seu peito. Precisou carregar sua mochila na mão para que ninguém roubasse nada. Ele cheirava a suor. O perfume que passara no começo do dia já não podia ser sentido. As gotas daquele líquido quente corria-lhe a testa.  Vez ou outra ele limpava com a manga da camiseta. Mas não conseguia mexer-se muito naquele vagão lotado. E ele não queria que alguém trombasse acidentalmente com a rosa. De baixo de seus braços, havia um azul escuro e molhado. Sua barba coçava. Sua respiração cansava. 
Por dentro do guardanapo levemente engordurado, a delicadeza da flor sofria o calor daqueles animais falantes, barulhentos, gritantes. Suas pétalas, que antes avermelhava seu aroma, agora, pintavam-se de um marrom pouco vivo. 
O trem freou bruscamente, o homem com a flor no peito quase caiu, ele estava segurando-se apenas com uma mão, mas valeria a pena, quando chegasse em casa, sua mulher abriria um sorriso, lhe beijaria a face e colocaria a rosa morta num copo com água. Um copo transparente com marcas da cola da etiqueta do requeijão. 
Sua mão suja encardia onde ele tocasse, no seu punho escorria um suor preto. A rosa ainda estava no seu peito. Ele a defendia como se guardasse um filho. Quanto mais cuidada fosse a flor, maior seria o sorriso da esposa. 
Estação Barra Funda. Ele saiu do vagão. Saíram ele do vagão. A cada baldeação, mais perto sua casa e sua mulher estavam.
Se aquela rosa não era o amor, eu não sei o que é amar.

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