5 de setembro de 2012

Genocidio de um homem só. Um homem que não existe.


Eu quero gritar.  Berrar. Quero que todos me ouçam, quero que tudo que tenha vida saiba da minha dor, saiba quem eu sou. E quem eu sou:? Eu choro tanto por não saber. Eu choro por não poder saber. Eu quero  gritar. Quero ouvir minha voz se enrouquecer num berro desumano. Imprudente. Inconsequente. Libertador. 
Ai como dói essas amarras. Correntes farpadas e mergulhadas no vinagre barato. Sinto minha carne ser devorada pela ferrugem. A prudência me faz acostumar-se com a dor. Sentir lanças transpassando minha pele. Pele, essa maldita ponte entre o que tem em mim e o que tem no mundo.Essa jaula que não me suporta. Miúda jaula ferida. Por que meus olhos não se cansam se lavar minha face? Minhas lágrimas amargas gritam meu pranto, minha dor, meu desespero, meu medo, meu assombro. Deixe-me só e não me abandone. Queria que minha pele fosse devorada por decompositores e mostrasse ao mundo o monstro preso dentro do médico. Oh meu Deus, por que tenho que esperar estar em um tumulo para que os vermes me comam? Eu quero que comam minha carne e o jorrar do meu sangue grite minha dor.Eu quero ser o monstro nojento e asqueroso. Eu preciso ser devorado para que a deformaçao da minha face seja motivo de assombro. Eu preciso, urgentemente, assombrar os que eu amo. Meus suspiros se engasgam e me vem a boca o gosto amargo da minha respiração. Eu só quero gritar. E que não exista um pós-grito. Que o tempo se acabe e que o amanhã morra. Eu quero jorrar sangue da minha garganta em cima dos seus bons costumes, lavar seus almoços em familia como num genocídio. O Genocídio de um homem só. Quero deslizar uma lâmina na minha jugular, mas não chore. Não chore, por favor lhe imploro. Não derrame uma só lágrima por essa morte. Pegue seu champagne ou sua pinga barata, tanto faz, e festeje. Sim, festeje. Estamos em festa. Alguém morreu, quer alegria maior? Você não costuma festejar quando alguém se entrega aos vermes? Como você pode ser tão tolo? Você o acha nojento? Mas não se entristeça, não foi suicídio.Eu não quem sou. Não sei se sou um, dois ou se sou mil. Eu apenas matei. Se matei um dos mil ou matei o unico, eu não sei. Eu não sou suicida, eu sou homicida. Eu matei a mim mesmo, mas eu, eu não sou eu. Se matei um dos mil eu lhe fiz um favor, Mas matando o unico, eu deixo de existir, ou talvez, eu nunca tenha existido. Quero deixar todo esse carbono das minhas carnes adubar o solo assim como estrume de uma vaca. Oh meu Deus, por que as lágrimas não sabem se caem ou se secam? Acho que minhas lágrimas ficaram roucas. Até essas malditas lágrimas me abandonam. A fadiga me alcança. O Cansaço. O sono. Ou talvez, a Morte. Talvez seja a morte. Alguém preciso morrer. Mas eu tenho tanto medo. Eu sou tão fraco. Tão dependente. Tão incompetente que nem apodrecer eu consigo.

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